A Arte existe porque a vida não basta
Cerimônia dos jogos olímpicos de 2024, em Paris. Distraído entre um livro, o aparelho de celular, e a TV ligada, de repente ouço L’Hymme à l’amour da cantora francesa Edith Piaf, na voz de alguma outra cantora até então não identificada, no que acredito ser o palco mais alto do mundo que um cantor possa ter se apresentado nos últimos anos: o alto da Torre Eiffel. Celine Dion. Houveram apenas algumas frações de segundos de dúvida entre a dona da voz, e a lembrança da minha expectativa, de que a mídia estava anunciando há alguns dias de que ela e a Lady Gaga poderiam se apresentar na festa de cerimônia. Alguns até chegaram a especular de que as duas poderiam se apresentar juntas - já que Celine vem sofrendo há alguns anos da sindrome de pessoa rígida, e Gaga poderia lhe auxiliar na apresentação. E inclusive, Celine já havia feito uma espécie de despedida, e comentado sobre a possibilidade de nunca mais voltar a cantar, em um depoimento super emocionante há algum tempo atrás.
“A arte existe porque a vida não basta.”, frase famosa conhecida através do poeta maranhense Ferreira Gullar, que define perfeitamente essa situação. E quando vejo Celine Dion encerrando a penúltima parte da música, onde seu rosto expressa uma nítida feição de alguém que, se fosse necessário verbalizar naquele momento diria: “Eu consegui! Eu estou viva!”, posso sentir profundamente o que é um artista que já entendeu que há uma vida além dessa da qual discutimos, buscamos, e nos escravizamos todos os dias. Feliz de quem pode desenvolver alguma atividade artística, que consiga viver através de sua arte, e que já tenha entendido que quando tudo tiver desmoronando, e quando parecer que está faltando tudo, você ainda pode tirar dentro de um baú precioso no profundo da sua alma, uma dose extra de sobrevivência.
Texto: Rômulo, escritor