Oito Cartas, Destinatário Ausente - Um conto de fadas que irá te revelar o que acontece após "felizes para sempre"

A capa do livro já diz muito sobre o que estar por vir em suas páginas, pelo menos aos olhares mais atentos. Ilustrações quase infantis, típicas de livros de contos de fadas, tons pastéis, e o leitor mais desatento, até compra o livro com estética lúdica, para presentear o sobrinho. Mas se você se atentar desde o título, percebe que há algo estranho em relação a um possível clichê que iniciaria com "Era uma vez...". Oito Cartas, Destinatário Ausente, o  título já começa te deixando perguntas, e uma sensação de que esse conto de fadas pode ser um pouco diferente.


E se, depois do “felizes para sempre”, viesse o silêncio? A estreia literária de Rômulo nessa obra com grandes chances de se tornar clássica é um conto de fadas às avessas: lírico, devastador e impossível de abandonar.

Há livros que nos seduzem pela trama. Outros, pela linguagem. Há os que nos atravessam como uma lâmina, e há os que nos abraçam com mãos sujas de sal. E Oito Cartas faz tudo isso — e mais. Com um subtítulo provocador “Um conto de fadas que te revelará o que há após ‘felizes para sempre’ ”, o livro nos convida a testemunhar não apenas um romance, mas os estilhaços dele.

E nesse aparente conto de fadas, você conhece a história de amor de Dante, um escritor de sucesso no Brasil, que vivendo recluso em um vilarejo de pescadores em Arraial d'Ajuda, na Bahia, num cenário que evoca tanto o idílio quanto o abandono, é onde decide aproveitar do seu oficio, para manter acesa a chama do amor que ainda sente pelo seu ex-namorado, Sacha. Um francês que decidiu abandonar o estilo de vida de cidade grande, na Europa, para viver a sua versão de liberdade no Brasil. Dante lhe escreve uma, duas, três, até oito cartas, para alguém que antes mesmo da primeira correspondência, já não lhe respondia mais as suas mensagens de texto, e ligações. Um romance epistolar, todo narrado através de cartas, onde a cada capítulo, você conhece um pouco do presente do narrador, após o fim daquele relacionamento, conectados com situações da sua história com Sacha. Onde o leitor toma conhecimento de como iniciou aquela relação, quem de fato são os homens que formam aquele casal, e o que houve, quem impediu de permanecerem juntos. 


Rômulo constrói um romance que desafia classificações: há romance, sim, mas também há suspense emocional, inquietação política, crítica social e pulsação poética. O leitor é mantido em cativeiro emocional do início ao fim, porque cada carta escrita por Dante carrega não apenas lembranças, mas revelações, tensões e viradas inesperadas. E à medida que a oitava carta se aproxima, uma pergunta ecoa com força crescente: alguém vai responder? Ou essa escrita é o último gesto de um amor que já não encontra mais eco?

Essa dúvida é uma das engrenagens mais poderosas da narrativa. O título — Destinatário Ausente — provoca, mas não entrega. O livro se sustenta no mistério, nos silêncios entre uma carta e outra, nos hiatos emocionais que o leitor precisa preencher por conta própria. A resposta pode vir. Ou não. E esse suspense é o que faz da leitura uma experiência quase obsessiva.

A metáfora do conto de fadas invertido não é apenas estética: é estrutural. Rômulo desfaz os mitos do amor romântico, da salvação pelo outro, da pureza do afeto interracial e da ideia de que o amor basta. Aqui, o que sobra após o “felizes para sempre” são fragmentos, palavras, restos. E é nesses restos que o autor encontra beleza.

A escrita de Rômulo é afiada e lírica. Seus parágrafos ressoam como orações quebradas, tão carregados de emoção que parecem arder no papel. Há algo de James Baldwin na força política da intimidade, algo de Roland Barthes na dissecação minuciosa dos afetos, e ecos de “Moonlight” na estética do não-dito, na dor que se arrasta silenciosa entre os corpos.

Ao ambientar a história num vilarejo baiano — longe dos centros urbanos e do clichê cosmopolita —, o autor reafirma a territorialidade do afeto negro, dando ao cenário um papel simbólico e narrativo de grande impacto. A Bahia, com seus pescadores, suas ausências e suas memórias, torna-se quase um terceiro personagem entre Dante e Sacha: testemunha, cúmplice e, talvez, algoz.

Além da densidade literária, Oito Cartas, Destinatário Ausente tem uma qualidade cinematográfica evidente. Seu ritmo íntimo, a tensão contida, o apuro estético e a ambientação entre o litoral baiano e os abismos afetivos o colocam como forte candidato a uma adaptação para o cinema. É fácil imaginar essa história nas mãos de diretores como Barry Jenkins (Moonlight, If Beale Street Could Talk), que sabe como ninguém traduzir silêncio em imagem e desejo em luz. Também se pode sentir ecos do lirismo de Karim Aïnouz, especialmente em O Céu de Suely e A Vida Invisível, onde o tempo lento, o feminino e a ausência ganham densidade estética e dramática. E também, Luca Guadagnino, com seu olhar sensorial e sua assinatura de intensidade emocional contida, também seria uma escolha natural — alguém capaz de traduzir o erotismo da ausência com beleza devastadora, como já fez em Me Chame Pelo Seu Nome.

Oito Cartas, é um romance-suspense que não pede leitura — exige rendição. Quem mergulha nessas cartas não sai ileso. Dante não escreve apenas para Sacha. Escreve para todos que já amaram alguém que não soube ficar. Para todos que já habitaram o lugar da ausência, da espera, da insistência em nome de algo que parecia amor. É também, muito mais que uma história de amor entre dois homens, é uma narrativa que cabe pra todo tipo de relação, e para pessoas de todas as sexualidades. Qualquer ser que já experimentou o amor, irá se encontrar nessa obra.

Rômulo entrega ao mundo um livro inaugural maduro, belo e corajoso. Uma obra que já nasce com o peso de um clássico moderno. E que nos faz lembrar que, às vezes, a parte mais verdadeira do amor não está no encontro, mas naquilo que se escreve quando tudo parece ter acabado — mas ainda não acabou.


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Oito Cartas, Destinatário Ausente é uma obra de Rômulo, pela Editora O Escritor.

Páginas: 76 (formato PDF/A4), média de 140 páginas em formato impresso

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