CRÔNICA - O que você procura está procurando por você

Esse texto é uma crônica que faz parte do livro Oito Cartas, Destinatário Ausente, do mesmo autor, que está à venda por apenas R$9,90

Há quase meio milênio, vivemos a era do amor romântico. Uma cultura das relações humanas, ilustrada por encontros do acaso, paixões avassaladooiras, famílias inimigas, renúncias, fugas e tragédias. Sim, estou tomando como referência para escrever esse texto, a obra mais popular do poeta e dramaturgo William Shakespeare. Esse, influenciou fortemente o que hoje idealizamos em nossas relações, onde somos protagonistas, mas vivendo roteiros escritos por outras pessoas. 

Encontros que parecem acidentais, o primeiro beijo com direito a borboletas no estômago, aquela trama em que parece que todos em volta estão contra o casal, e que eles irão lutar contra o mundo, para ficarem juntos. Grandes festas de casamento uue mais se parecem com espetáculos da Brodway, organizados para dezenas, e até centenas de pessoas , entre conhecidos e aqueless que se quer fazem parte da vida do casal. Sem deixar de comentar os filhos que vem após a lua de mel. Alguns, com  intenção de no futuro, segurar um casamento que já vai estar falido há muito tempo. E um sem fim de outras histórias, que estão presentes até em livretos de balcão de farmácia.   

Há quase 500 anos estamos tentando replicar uma história, com referência do próprio texto original (uma peça teatral), definida como a mais romântica tragédia de todos os tempos, presente na literatura inglesa. Não tão distante desse período, Cleópatra e Marco Antônio, são a maior ilustração de relacionamentos pautados no poder. Já acelerando milhares de anos para o passado, nós homens, nos uníamos a mulheres, para poder competir com nossos colegas de caça (outros homens), quem tinha as maiores e mais saudáveis famílias, com um número cada vez mais crescente de filhos. Refletindo sobre tudo isso, a impressão que fica é que depois de 200 mil anos como homo sapiens, nós continuamos a fazer tudo errado. Somos conscientes do que nos faz bem, e do que queremos. Ok, alguns nem tanto. Mas por conta do ego, competição e poder, enaltecemos valores contrários, para servir pessoas que não gostamos, e não gostam da gente. E por onde anda o amor? 

Até ontem procurávamos pelas donzelas para lhes devolver o outro lado do sapatinho; esperávamos o príncipe loiro e dos olhos azuis para nos acordar de um profundo sono; procurávamos pelo turista estrangeiro que nossas mães nos ensinaram que será a nossa garantia de futuro; namoramos as jovens mais belas depois de um divórcio turbulento, e assim por diante. Hoje, mudou apenas a pauta. Nos envolvemos com pessoas de outras etnias para tentar convencer a nós mesmos de que não somos todos preconceituosos e racistas, experimentamos corpos diferentes, e fora dos padrões comuns de beleza. Mas no fim, estamos só vivenciando novos erros, disfarçados de politicamente correto. Continuamos querendo a mesma coisa, mas sem colocá-las como a base daquilo que construímos.  

E não há problema algum em continuarmos desejando as princesas e os príncipes da Disney, desde que sejamos os principes e princesas para quando os nossos chegarem de carruagem, encontrar alguém à altura. Compramos a teoria da alma gêmea, criamos uma lista interminável com critérios do que é importante em uma mulher. Mas esquecemos que essas mesmas pessoas estão procurando um perfil semelhante. E nisso, passamos anos, décadas, séculos e milhares de outros anos, nos desencontrando, e nos relacionando com as pessoas erradas, pelos motivos errados.  

Desejamos um par perfeito, sem nem mesmo sermos o par perfeito de quem buscamos. Acordamos num sábado sentindo falta de um grande amor, mas à noitte, quando saímos a procura dele, nos perdemos e uma competição de quem vai beijar mais bocas em uma única ballada. E justificando para nós mesmos, de que que enquanto não conseguimos encontrar o amor verdadeiro, estamos apenas nos divertindo. E mais uma vez, quem estávamos procurando, estava procurando por nós. E o que estávamos fazendo quando ele ou ela apareceu? 

“O que você procura está procurando por você”, frase de Rumi, poeta e teólogo afegão, é a definição perfeita de que estamos dando voltas, há anos, correndo atrás de alcançar o próprio rabo. O que tanto desejamos, e estamos há milênios procurando de forma errada, está há milênios bem aqui. Na nossa frente. E nos forçamos em não querer enxergar. 

Rômulo

 

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